Wednesday, November 30, 2005

DOMINGO, 2 DE DEZEMBRO DE 1973

À entrada de Mussacama, só algumas viaturas militares derivaram para a povoação denominada Viúva Henriques, a cerca de 34 quilómetros, devorando o pó fino da picada irregular, a fim de levar o pelotão do alferes Vale, em rendição dos velhinhos.
A picada é um estreito caminho em terra batida, demasiado rudimentar, escurecido pelas copas das árvores gigantes, onde as trevas devoram a luz e o espesso capim floresce por entre a densa floresta.
Após algumas horas de viagem, maquilhados com o pó do caminho, a pequena coluna atravessou uma ponte de betão. Duas enormes crateras, resultado de rebentamentos de minas anti-carro ornamentavam o solo carcomido pelas intempéries. A tropa velhinha foi a obreira dos remedeios efectuados com vários toros de madeira, para permitir a circulação das viaturas. E afiançaram-nos que aquela tarefa já fora refeita por duas vezes.
Efectuada a rendição, a coluna regressou a Mussacama, arriscando uma directa, que lhe permitisse pernoitar em lugar seguro. E quem não arrisca, não petisca! — diz o povo.
Com a ração de combate dormitando no bornal, nenhum dos viajantes alimentava a ideia de poder saborear uma refeição quente. Todavia, a gentileza dos nossos companheiros de luta foi extrema. Um prato de macarrão com chouriço e um caldo verde aguado — que luxo, meu Deus!, — devorados com sofreguidão, e eis o tónico retemperador das forças quase exaustas.Entretanto, no Zóbuè, foi necessário realizar uma evacuação helitransportada, uma vez que um soldado dos “velhinhos”, ao manusear a arma, em operação de limpeza, disparou um tiro. Para seu azar, a bala introduziu-se na barriga da perna.


SÁBADO, 1 DE DEZEMBRO DE 1973

Cinco horas da manhã. No parque-auto, os motores da Berliet e dos Unimog vibram com as primeiras rotações, num roncar, ora grave, ora agudo, provocado por acelerações cada vez mais fortes. Tanta barulheira despertou o aquartelamento.
Numa das tendas de campanha, servindo de dormitório para cinquenta homens, o soldado Vilela, bêbado de sono, aconchegou os lençóis e cobriu a cabeça com a almofada de esponja verde, descoberta.
— Toca a levantar, malta. — anunciou o 1º cabo Sousa.
Patusco, a quem fora confiada a tarefa de ajudar na cozinha, levantou-se de um salto e, enquanto enfiava o braço direito na manga da camisa, num ápice, puxou, para os pés da cama, o lençol branco, deixando a descoberto o corpo franzino e de carnes magras do Vilela.
— Acorda, malandro! São horas de ir para o mato! — gritou.
— Maldita sorte a minha. — lamentou-se Vilela, entreabrindo, a medo, os olhos, após uma demorada esfregadela.
— Bem que podia ter fugido para França. Burro, mil vezes burro! Besta! — exclamou de seguida.
— Isso, isso. Não te apresses e, depois, protesta por falta de tempo para o café. — retorquiu Patusco, ao abandonar a tenda.
— Qual café? Água preta. Aliás, tudo é preto nesta maldita terra. — bradou de novo o Vilela, ajeitando as cartucheiras, enquanto se dirigia para a arrecadação a fim de ajudar os companheiros no transporte dos cunhetes de munições.
O pequeno almoço foi tomado à pressa. Não há tempo a perder. Patusco, solícito, oferecia os seus préstimos, colocando grossas talhadas de margarina no quarto de pão branco e enchia de café, até transbordar, o caneco individual, de esmalte.
— Comei bem, rapazes. Precisais alimentar-vos bem para enfrentar os turras. Olhai que tendes muito para picar. E se precisardes de ajuda, é só chamar. Aqui o rapaz dá logo, logo, um pulinho e zás ... resolve-se a questão.
Mastigando, os últimos pedaços de côdea, alguns soldados subiram para a carroçaria das viaturas. Ocuparam os seus lugares e partiram para escoltar a coluna até ao Cruzamento.
A coluna, comandada pelo alferes Gonçalves, foi a primeira sob a nossa responsabilidade e saiu com 17 carros civis, quase todos camiões TIR.
Subindo morros e descendo ribeiros por entre capim molhado pelo cacimbo, os novos bravos da picada abriram fogo de reconhecimento. A caravana seguia lentamente após a passagem dos picadores que, cuidadosamente, iam sondando o trilho formado pelo rodado das viaturas nas constantes passagens.
Além dos aparelhos detectores de metais, habitualmente inoperacionais, os picadores serviam-se das picas — pedaço de ferro fino roliço e pontiagudo, colocado na extremidade de uma vara com cerca de um metro de comprimento — espetando-as na terra dura em busca de objectos metálicos explosivos, vulgo minas.
Por vezes, um som mais agudo despertava a curiosidade do operador da sonda que, quase por milagre, ainda conseguia funcionar. De imediato, o furriel especializado em minas e armadilhas ajoelhava-se, pronto a estudar a situação e afastava, com os dedos, a terra solta, no local indicado.
No rosto, a imagem de expectativa pelo encontro indesejável com o desconhecido é substituída por uma expressão de ânimo ao descobrir uma inofensiva carica de cerveja.
— Podia ter sido pior. — desabafou o técnico, soltando um profundo suspiro de alívio.A cena repetiu-se uma dezena de vezes ao longo de dois quilómetros. Depois, mais familiarizados com as diferentes intensidades de som nos auscultadores, os operadores tentavam captar sons agudos, indicadores de perigo iminente.


Tuesday, November 29, 2005

SEXTA-FEIRA, 30 DE NOVEMBRO DE 1973

O primeiro dia neste quartel, onde tudo é novo, diferente e estranho. Aqui, estamos, a maioria, jovens quase imberbes, lançados às feras, no circo da guerra, pela nação que deveria protegê-los e prepará-los para a vida activa. Pobre país que seus filhos despreza!
O dia foi destinado à descoberta do quartel e à instalação das nossa acomodações. Afinal, a velharia transfere-se dentro de quatro dias, para outro local.


QUINTA-FEIRA, 29 DE NOVEMBRO DE 1973 (cont.)

Uma réstia de sol amarelo-esbranquiçada escondia-se por detrás do horizonte, quando a coluna, por fim, atingiu, sem percalços, as portas da vila do Zóbué. Foi quando uma sinfonia desconexa de buzinadelas dos klaxons das viaturas militares anunciou a chegada da coluna, no seu habitual ritual do dia a dia.
À passagem pelo hospital, os indígenas aproximavam-se da berma do caminho de terra batida — ao alcatrão ainda não foi dada oportunidade para visitar estas paragens — ladeada por enormes e centenários plátanos. Esquecendo por instantes as suas penas, dores e canseiras, a população batia palmas e acenava à passagem dos carros. Duzentos metros à frente, lá estava o quartel com placas em madeira, sinalizando LISBOA — 20000Km; PISCINA — 150mts; MALAWI — ao lado.
Eufóricos, soltando urras e vivas, a “velhice” correu ao encontro dos heróis do dia, não só para vitoriar os companheiros de ofício, mas também para saudar e desejar as boas vindas à Companhia que lhes vem render. Numa enorme faixa branca, colocada ao lado da porta de armas podia ler-se: BENVINDOS AO ZÓBUÈ.
A rendição de uma Companhia em zona de guerra tem um valor imensamente grande para quem vai partir dentro de um par de dias.
Como um farol de salvação para o náufrago ou o balão de oxigénio para o moribundo, este acto significa o visto no passaporte do prisioneiro a caminho da liberdade. No caso presente, assinala o cumprimento de metade da comissão para os rendidos.
A recepção aos portugas, com notícias frescas da terra e o camuflado cheirando a naftalina, prolongou-se pela noite dentro. Trocaram-se abraços, ganharam-se novos conhecimentos, conquistaram-se novas amizades, contaram-se dezenas de histórias, verdadeiras umas, nem tanto, outras.
À luz ténue de um coto de vela emprestado, o 1º cabo Costa redigiu meia-dúzia de frases numa folha de papel de bloco amarrotado, mas simpaticamente cedido pelo soldado Casqueira.
“— Querida mãe e irmãos. Escrevo para lhes dar a saber que cheguei bem de saúde ao quartel. Estou no interior, numa pequena vila, muito longe da cidade. Os que já cá estão contaram-me coisas que não sei se devo ou não acreditar, mas tudo se há-de compor. ... ... ... Adeus até ao meu regresso.”
A primeira mensagem escrita da zona de guerra para a família, na esperança de conceder-lhe um pouco de apoio moral, está pronta para seguir no próximo correio.



QUINTA-FEIRA, 29 DE NOVEMBRO DE 1973

A derradeira etapa deste longo percurso iniciou-se pelas cinco horas da manhã. Feita, na véspera, a integração da tropa local, dispersa pelos quatro pelotões de combate, a coluna de escolta militar às viaturas civis, com destino à fronteira do Malawi, iniciou a marcha ao encontro da coluna descendente do Nordeste, em lenta velocidade, à saída da cidade carvoeira de Moatize.
No lugar conhecido por Cruzamento de Caldas de Xavier, confluência de três estradas, de terra batida, fez-se a permuta da escolta militar, sem demoras inúteis. Todos ansiavam poder regressar ao quartel e descansar da árdua tarefa da picada.
Impondo um andamento mais rápido, pois a picada estava “aberta” — mesmo assim é sempre possível encontrar desagradáveis surpresas — a coluna estendia-se pela estrada, serpenteando o capim alto, esconderijo de desconhecidos mistérios africanos.
No firmamento, as nuvens, também elas, por esta vez, negras, corriam velozes. O vento soprava forte, espalhando no ar o pó da terra, repleta de lombas e covas.
É costume militar na chegada de novos contingentes, os mais velhos prontificarem-se a contar histórias — quantas delas verdadeiras? — de feitos bélicos acontecidos na sua área de jurisdição, não sem antes misturarem uma pitada de humor negro.
É uma forma pacífica de entrar num clima de guerrilha.
Entre narrações de cabeças decapitadas e fugas vitoriosas, episódios de urticária das micoses e paludismo, de minas e emboscadas, os “checas”, título atribuído aos recém-chegados à Província, são introduzidos no seu novo habitat.

QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 1973

A primeira noite, a caminho do interior da província, saldou-se por um acumular de insónias. O roncar grave do motor, os balanços da carruagem e, principalmente, as horríveis condições de acomodação são os responsáveis primeiros do cansaço matinal. Rói a lembrança do colchão da caserna, abandonado na Metrópole.
Pelas nove horas, chegámos a Mutarara. A continuação da viagem ferroviária teve lugar noutro tipo de comboio, com paragem em Doa, onde encontrámos os companheiros da 1ª Companhia do nosso Batalhão Expedicionário 5014. Às 18 horas, pudemos, finalmente, desembarcar no cais da estação de Moatize, vila onde predomina a exploração carbonífera.
A paisagem africana sempre despertara o nosso interesse. A aproximação geográfica com o continente negro é um facto consumado. Nos finais do século XIV, os nossos luso-antepassados iniciaram a aventura africana. Talvez por isso mesmo, o fascínio africano povoa o nosso espírito. Os sons exóticos da floresta, o colorido sensual do pôr do sol, os movimentos dançantes dos animais e os odores cosméticos flutuando no ar, em conjunto, contribuem para nos enlearmos na agridoce realidade africana.Aqui e ali, uma cantina, uma escola, uma casa ou uma ponte, como a imponente ponte sobre o rio Zambeze, entre Donana e Mutarara, perpetuam no tempo resquícios da presença lusitana em terras de Moçambique.


TERÇA-FEIRA, 27 DE NOVEMBRO DE 1973

Manhã cedo, depois de, pela vez primeira, vestirmos o camuflado, recebemos as espingardas automáticas G-3, as nossas novas e inseparáveis companheiras de trabalho, com a promessa de carinhosamente velarmos por elas. Novas, quer dizer, novos donos, porque elas já passaram por muitas, muitas mãos.
Duas unidades de ração de combate, made in África do Sul, entupiam o bornal. Adeus cidade. Adeus civilização.
Na estação ferroviária, o comboio apinhava-se de gente. Malas e embrulhos, trouxas e pacotes amontoavam-se no estreitíssimo corredor, complicando a passagem dos passageiros para os seus lugares. Um linguajar estranho, completamente imperceptível, mistura de dialectos, circula no ar.
Três apitos sinalizaram a partida em direcção ao noroeste, distrito de Tete. Embrenhados pela paisagem indígena, e ajudados pela baixa velocidade da máquina, a Companhia assimilava, pouco a pouco, a realidade desta terra africana. E a contrastar o estado de espírito acabrunhado da chegada, os nossos militares tinham estam-pada no rosto, a vontade férrea de vencer, de dar o chuto final na sorte matreira e muitas vezes traiçoeira.


Sunday, November 27, 2005

TERÇA-FEIRA 26 DE NOVEMBRO DE 1973 (cont.)

Para os soldados, aqui, tudo é novidade. O clima, o ambiente, o movimento na cidade, o colorido alegre das roupas _ camisa e capulanas _, o cheiro e o gosto africano. Misturada com a população, a tropa embrenha-se na vivência diária, nas idas e vindas de quartel para quartel e de base para base. População e militares, brancos, negros e mestiços, todos cohabitam irmanados num objectivo comum: o desenvolvimento de Moçambique.
Na Beira, não cheira a guerra, apesar das fardas e dos camuflados. Sabe-se que ela existe, forte e feia, mas bem para além dos limites da cidade.

Saturday, November 26, 2005

SEGUNDA-FEIRA, 26 DE NOVEMBRO DE 1973

09h15. O Boeing 707 das FAP aterrou no aeroporto de Luanda, para uma curta escala técnica. Fomos autorizados a visitar a aerogare por um período de três quartos de hora, tempo suficiente para uma revisão técnica ao avião.
O furriel madeirense, Araújo, aprestou-se a ser dos primeiros a chegar ao bar. Pediu uma Coca-Cola. Era o seu primeiro contacto com aquela bebida americana, em vinte e dois anos de vida. Custava-lhe entender a razão da proibição de uso daquela marca ianque, no seu país. Portugal até era “amigo” dos States. E as Províncias Africanas não pertenciam à mesma nação? Coisas da governação salazarista!
O furriel degustou com elevada sofreguidão a escurinha. De imediato pediu outra. E mais outra ainda. Era a sua vingança por tantos anos de interdição.
Retornada às entranhas da máquina voadora, a Companhia reconfortou-se com uma espécie de almoço aquecido a bordo. A espaços, a teia de nuvens brancas, diluindo-se lentamente, permitia observar o solo africano. Conseguia-se, com ligeiro esforço, descortinar as palhotas dos aldeamentos, povoando as clareiras dispersas na extensa floresta. Quanto esforço, outrora despendido pelos lusos exploradores do continente negro, Hermenegildo Capelo e Roberto Ivens? E então, lá íamos nós, os pacificadores das ingratas revoltas da libertação. Acorda país. É tempo de compreenderes que o tempo mudou. E ainda não foste capaz de entender as sábias palavras do poeta: “Um fraco rei torna fraca a forte gente”.
— Talvez um dia ... !



Às 14h45m. locais, finalmente, o avião rolava na pista do aeroporto da Beira. Aberta a porta do pássaro metálico, sentiu-se bater no rosto, em fluxos contíguos, a humidade quente do clima local.
Cambaleando, o cansaço tolhendo os movimentos, os militares pisaram solo moçambicano, após uma longa e extenuante viagem ao encontro do desconhecido.
Patusco, o soldado mais brincalhão da Companhia, estacou no último degrau da escada do avião, como o cavalo de D. Fuas Roupinho, no Sítio, Nazaré. Por breves instantes, olhou para o solo e, religiosamente, colocou a bota do pé direito no asfalto quente, não fosse o azar acompanhá-lo nos próximos dois anos.
No terraço do aeroporto, misturados com a gente anónima da cidade, curiosa para presenciar o movimento contínuo de aterragens e descolagens das enormes naves, uma Companhia inteira, em ensurdecedora algazarra, aprestava-se a regressar ao seu Portugal. Ditosos todos quantos tamanho desiderato conseguem cumprir. Aos infelizes, da lei da morte libertados, — paz às suas almas!
Na euforia pelo retorno à terra materna, cantavam, gritavam e berravam. E aproveitavam o momento para, segundo a praxe militar, desejar as boas-vindas aos novatos na Província. Impetuosos, aclamavam os recém-chegados:
— Sejam bem-vindos a África, checas!
— As tuas amigas, as minas, esperam-te na picada!
— Vai para o mato, malandro!
No trajecto para o quartel, e para descontrair a tensão nervosa acumulada ao longo dos últimos dias, — é urgente vencer o primeiro inimigo, o medo, — os mais extrovertidos lançavam piropos às mulatas, gingando o corpo esbelto, sob as capulanas de corres garridas, que lhes retribuíam, acenando da berma da estrada.
— Olá, borracho! Que coisa gostosa! Ginga o mataco, ginga!
— Então, coisinha bonita, tudo bem por cá?
— Muana, espera por mim, amanhã, à mesma hora!
Enquanto dezenas de frases telegráficas soavam no ar, os nossos olhares carregados de curiosidade varriam a beleza da paisagem tropical.



Friday, November 25, 2005

DOMINGO, 25 DE NOVEMBRO DE 1973

_ Toca a levantar, rapaziada! — gritou o sargento de dia à Companhia, ainda o corneteiro de serviço à Unidade tocava as últimas notas da alvorada.
Pequeno-almoço devorado à pressa e eis-nos formados na parada. Ao lado, tossiam bufadas de fumo os motores das Berliets, numa fresca manhã de outono.
No braço, o relógio marcava as 07H10, quando foi dada a ordem para abandonar o quartel.
Na estação ferroviária, despertava, da sonolência nocturna, o comboio que nos haveria de transportar até à capital do último império colonial.
Um dia passado, deslizando sobre os carris do país, de norte a sul, é demasiado tempo para deixar o corpo moído pelos constantes balanços da velha carruagem. Bem no íntimo de cada um, a chaga da traição do país que optou por enviar os seus filhos varões, na flor da idade, para o palácio da morte, transformava-se numa pequena ferida que nem o jogo da sueca conseguia disfarçar a angústia depositada no âmago do ser de cada um.
No aeroporto militar de Figo Maduro, em Lisboa, antecedendo a partida, a Companhia foi autorizada, por breves instantes, a confraternizar com os familiares, namoradas, noivas e amigos. Apesar da situação, os jovens milicianos procuravam aparentar a serenidade camuflada e facilitar as despedidas.
Mas nem todos tiveram a possibilidade de receber os últimos conselhos dos familiares mais queridos, guardar um abraço amigo, provar o beijo amargo da partida. Os furriéis ilhéus, da Madeira e dos Açores, apenas encontraram o vão consolo da partida, no gesto solidário de uma desconhecida figura feminina que lhes ofereceu uns pastéis de bacalhau.
Entretanto, um transistor portátil, atafulhava em altos berros uma popular canção:
Ó Laurindinha, estás à janela a ver o teu amor, ai, ai, ai, ele vai prá guerra ... Se ele vai prá guerra, deixá-lo ir; é rapaz novo, ai, ai, ai, ele torna a vir...
Eram então 22H30, quando a “Sweet Caroline”, de Neil Diamond, foi interrompida e uma voz masculina, grave e pausada:
— Senhores passageiros do voo TAM-Transportes Aéreos Militares, com destino à Beira, queiram dirigir-se à porta de embarque.
Minutos volvidos, correndo sibilante, a aeronave cinzento-escuro levantou voo, qual pássaro acabado de fugir da prisão de uma gaiola, desafiando a imensidão espacial. No ventre, levava uma Companhia de Caçadores, para as matas de Moçambique.
Alguns companheiros de armas tentavam camuflar o nervoso miudinho com sorrisos disfarçados, respondendo às larachas do Primeiro Sargento. Mas a maioria deixava correr, face abaixo, uma lágrima teimosa, qual cartão de despedida.
Emudecidos, alguns recusavamm-se a crer na realidade, tantas vezes adiada e ruminavam pensamentos macabros. Engoliam, a seco, gritos de revolta contra os profissionais da guerra que sangra, que fere, que mutila e, pior, muito pior, que mata. Os milicianos, porém, impulsionados pelo acelerar contínuo do coração, sustentando a revolta armazenada na alma, formulavam hipóteses de sobrevivência.
Mas nem o suave fresco do ar condicionado conseguiu arrefecer o calor emocional deste punhado de homens, movendo-se e removendo-se nos bancos, para “tentar esquecer”, enquanto o avião acelerava sobre o Tejo, coalhado de navios, cujas águas serenas dormitavam delicadamente nos braços do oceano.
De nariz colado ao vidro da janelita, os olhos fitando o monumento ao Cristo Rei, em Almada, o soldado Sousa Silva, o SS, para os amigos, lança-lhe uma promessa, a ser cumprida mais tarde, se a sorte não lhe for adversa.
— Um dia, quem sabe, ... !
Depois, hipnotizado pela escuridão exterior, lentamente, deixa tombar a cabeça sobre o ombro esquerdo e começa a sonhar. Acordado. Também se sonha acordado. Sonha com o seu lugar vago na fábrica em terras de França, de onde saiu para cumprir o seu dever patriótico. Sonha com a família, labutando nas terras altas de Trás-os-Montes e, divagando, antevê o dia do seu regresso triunfal ao lugar que o viu nascer, onde a terra dura e rude foi, um dia, também trabalhada pelas suas mãos, antes de ter dado o salto para a Europa à procura de melhores dias.



Thursday, November 24, 2005

SÁBADO, 24 DE NOVEMBRO DE 1973

Ao lado da guarita, o militar observava o horizonte do vasto oceano, misturado com o azulado do firmamento, onde, o rasto esbranquiçado de um avião, traçava o rumo a seguir: para o Sul. Uma tristeza profunda invadia-lhe o ser. Também ele aprestava-se para seguir a mesma direcção, onde o calor aperta e a terra vermelha é povoada por gentios de pele negra, professando outras religiões, falando outras línguas e vivendo outras culturas.
Parecia-lhe distante o dia da sua apresentação no BC 10, em Chaves, para formar o Batalhão Expedicionário 5014, e a sua integração na 2ª Companhia. E depois, as actividades realizadas ao longo de onze semanas ... fazer continência aos superiores hierárquicos, marchar, correr, rastejar, fazer flexões, a instrução nocturna, a carreira de tiro, o fogo real, o juramento de bandeira, ... a mobilização para África, ... Ali estava ele, mais os seus companheiros de armas, com guia de marcha para a província ultramarina de Moçambique, aguardando o dia seguinte, o dia da partida, para cumprir uma comissão de serviço militar.
Poderia ter fugido para a Europa. Mas para quê? Era ali que viviam os pais, os irmãos, os amigos, a namorada ... Ali, era o seu lugar. Partiria, com fé e muita esperança em regressar são e salvo. E quem sabe? Talvez até a guerra acabasse... !


Tuesday, November 22, 2005

NOVEMBRO CHEGOU ...

Definitivamente, as datas estão confirmadas. A partida para Moçambique terá lugar a 25 de Novembro. Nesse dia, a C.C.S. e a 1º Companhia estarão já em África. Agora, um fim de semana prolongado permite-nos ir a casa para a despedida. Não uma despedida definitiva, que ninguém deseja; antes, um sentido “adeus, até ao meu regresso”. E que esse regresso seja feliz para todos.

Sunday, November 20, 2005

A ENTREGA DO GUIÃO

A rotina diária tem sido quartel, quartel e, à noite, ronda aos pubs locais. Hoje, foi dia de tratar a saúde. Do Comandante ao último soldado da lista, em fila, todo o Batalhão aprontou o braço esquerdo para ver e sentir espetar-lhe uma comprida e torta agulha injectando o antídoto contra a varíola.
Apesar de ser sexta-feira, Viana parece que parou e saiu à rua para nos ver desfilar. Alinhados, como convém, gravata composta e boina ao lado, pernas bem levantadas e braços esticados, o Batalhão caprichou em deixar boa impressão à cidade que tão bem o acolheu antes da partida para o Ultramar. Fez-se a entrega do guião que acompanhará o Batalhão, em cerimónia pública. E as principais avenidas e ruas de Viana puderam observar como os nossos militares, briosos na sua farda bem vincada, e orgulhosos no seu querer, se dispõem a enfrentar as mais inusitadas dificuldades, “lá longe, onde o sol castiga mais”, alimentando a saudade e o amor.


Saturday, November 19, 2005

"MATO; MATO E MAIS MATO"

Ao fim de onze dias de “mato”, o pessoal já começava a desabituar-se da civilização, não fosse as nuvens, aqui e ali, oferecerem uma aberta e, assim, podermos descortinar parte da cidade, lá em baixo, engolida pela neblina.
Aguardava-se o regresso ao BC 9, para um banho retemperador __ o corpo difunde um misto de terra, suor e urina, __ e um valente bife de filete, com ovo a cavalo, num dos melhores restaurantes vianenses. E porque não uma ida aos “3 Potes” e tragar umas loirinhas num bate-papo com as garinas locais.
__ Só se vive uma vez! __ exclama, amiúde, o comandante da Companhia. E porque “a vida são 2 dias” e um já passou, toca a aproveitar o momento, porque qualquer dia tudo apenas veremos verde e preto à nossa volta.


Friday, November 18, 2005

"GUERRA" COMBINADA

_ Cheira-me que isto vai ser uma cowboiada! _ dizia-me um companheiro de armas, justificando a sua afirmação com a narração de anteriores desempenhos. Apesar das grossas nuvens escuras, choramingando ligeiras bátegas de chuva, a Companhia subiu ao alto de Santa Luzia e instalou-se em terrenos propícios para o tipo de exercício proposto. Três panos de lona, atados em esforço comum, e eis uma pequena tenda tornada abrigo provisório, pronta para enfrentar as intempéries que se avizinhavam.
Quando a alvorada acordava, já o 1º Pelotão montava um cerco ao “inimigo”. Sorrateiramente, os “invasores” camuflaram-se e, ao sinal de
comando, despejaram um girândola de pólvora seca sobre o terreno do IN.
Puro engano. O verosímil está distante da realidade. Da quase nula
reacção vinda do “aldeamento” atacado, à saraivada de balas secas com que foram escorraçados, pelas costas, só uma pequena brecha aberta nas hostes adversárias permitiu a fuga, seguida de valente censura e correcção orientada pelo alferes. E, enquanto uns cantavam glórias, outros maldiziam a sorte, cuspindo a lama abraçada à farda, depois de ganharem mais de 50 metros, a rastejar.
_ E isto é a fingir. Em África, será a sério. Se esta palhaçada fosse lá, estavam todos mortos. _ berrou o alferes

A sucessão dos dias continuou com a montagem de emboscadas fictícias, golpes de mão, acabando num aperto de mão, à volta de uma cerveja, e patrulhas embrulhadas no pinhal. Valeu a experiência de, pela vez primeira, os militares poderem fazer o baptismo de voo em helicóptero e testarem o (des)conforto dos velhos Alouettes, em campanha.


Thursday, November 17, 2005

VIANA DO CASTELO

1-10-73
Atravessar a imponente ponte de ferro sobre o rio Lima, ainda que em velocidade reduzida, torna-se um verdadeiro acto de equilíbrio, com o tabuleiro aos tremeliques sob as muitas toneladas de ferro do nervoso comboio. À medida que a corrente do rio se fundia com a maré salgada, a bela Viana espreguiçava-se diante dos nossos olhos, rendilhada, com o seu casario branco em fuga para o Atlântico azulado.
Chegou a ocasião de usufruirmos da derradeira preparação antes do malfadado embarque. O Batalhão, estacionado no Forte de Santiago da Barra, aprestou-se a enfrentar o I. A. O. nas cercanias do monte de Santa Luzia. Felizmente, que a esplendorosa panorâmica citadina, observada do alto do monte, recosta-se adormecida na tela natural dos nossos olhos.

Wednesday, November 16, 2005

DESPEDIDA DE CHAVES

Foi-nos dito que tínhamos sido contemplados com 15 dias de férias, pelo bom desempenho ao longo dos últimos tempos. Grande mentira! Como se não tivéssemos direito às férias de mobilização! Graças a esta deliberação, publicada em Ordem de Serviço, iniciou-se o processo de devolução do material fornecido pelo quartel. E o arrumar da mala torna-se já um hábito rotineiro. Ora arruma, em seguida desarruma, para depois voltar a arrumar e assim por diante. Desta vez, temos que aproveitar todos os momentos para revisitar os lugares e pessoas mais queridos, porque a despedida aproxima-se. E quantos de nós estarão certos do seu regresso ao lugar, à terra que o viu nascer? Nenhum!
Da nossa passagem por Chaves, jamais esqueceremos o tempo vivido no “hotel militar”, como pomposamente é conhecido o BC 10.
E os passeios pelas ruelas da zona histórica citadina; e o salto a Verin, terra de Espanha, para comprar caramelos ou pelo simples gozo de atravessar o rio, de jangada, enfrentando os tiros da velha mauser da Guarda Fiscal; e a ameaça de prisão feita pelo Cabo da Guarda de Fronteira, transportando-nos, no desengonçado Land Rover até à porta de armas, como se o simples facto de estarmos mobilizados não fosse pior que uma ida até à “casa da rata”; e os fins de tarde na esplanada dos cafés Aurora, Ibéria e Sport; e os piropos atirados às belas estudantes, acabadas de sair do liceu; e as saborosas iguarias da restauração flaviense; e os imigrantes, regressando de “vacances”, na sua máquina, último grito de marca, sempre a esgalhar, desafiando o perigo oculto em cada curva da estrada do nordeste transmontano; e o ferrugento “comboio texas a carvão”, arrastando-se na via estreita, “pouca-terra, pouca-terra”, a vomitar faúlhas para o manto verde da paisagem natural do vale do Tâmega; e a água borbulhante, tragada nas termas do Passeio Público, à beirinha da secular ponte romana dos arcos; e os animados bailaricos com jovens e anciãos dando o seu pezinho de dança, por ocasião das festividades religiosas das freguesias circundantes; e os passeios sem rumo definido nas ruas de Santo António e Direita; e os três meses de inferno, por oposição aos nove de inverno; e a prevenção ordenada na sequência dos desacatos públicos, com a “espanhola” hasteada no mastro da “verde-rubra, aquando da secretariada despromoção do clube local; e a convicção orgulhosa dos flavienses ao afirmarem que “além do Marão, mandam os que lá estão!”.

Monday, November 14, 2005

BATER SOLA E ... BATER SOLA

Com a entrada no mês de Setembro e a data da partida para África aproximando-se, em flecha, os primeiros tiros com fogo real, finalmente, fizeram-se ouvir. Alinhados na carreira de tiro, os soldados experimentaram o "coice" da G3 e puderam sentir o silvo agudo da música das balas, cortando o ar antes de atingir o alvo. Urgia dotar o Batalhão com uma preparação que visava, sobremaneira, a vertente física dos seus homens. Por mais que se simulassem situações dignas de um filme de guerra ianque, a verdadeira aprendizagem só poderia ter lugar no terreno, em condições naturais, com o cheiro da pólvora e do trotil, interiorizando o mistério e o perigo da mata, embrenhados na húmidade quente do clina africano. Todavia, contingências políticas nacionais contribuíram para a permanência do Batalhão, em território continental, durante mais um bom par de dias.


Sunday, November 13, 2005

DIA DA INFANTARIA

3ª feira, 14 de Agosto de 1973. Nesta data, comemora-se a vitória lusitana sobre os castelhanos, em Aljubarrota. Por tal efeméride, em homenagem ao feito heróico dos exército luso, em 1385, século XIV, foi superiormente instituído o Dia da Infantaria. No quartel, a celebração da data constou, de manhã, de um desfile perante as autoridades militares e civis. Ao almoço, o rancho apresentou-se melhorado e reforçado. E até o vinho __ com pólvora, "para esquecer", murmuraram os mais cépticos __ ajudou a alegrar o convívio no amplo refeitório, acompanhando o som agudo dos talheres, ao mesmo tempo que ajudava a clarear as gargantas poluídas pelo pó fino dos carreiros em terra batida.
À tarde, bem, o pessoal teve "ordem de saída" e, assim, as ruas da cidade tingiram-se do verde da farda militar. Entre várias peripécias dignas de memória, regista-se o conjunto de copos , voluntariamente, quebrados por uns alferes envolvidos pelos éteres alcoólicos, num dos cafés citadinos.


Saturday, November 12, 2005

FOI A 14 DE JULHO DE 1973 QUE ...

Foi no sábado, 14 de Julho, que a 2ª Companhia de Caçadores se aprestou para receber os seus militares. Formados na parada do BC 10, os quatro pelotões conheceram o seu comandante, Tenente Miliciano António Carvalho.
Dia após dia, o cansaço acumulado com a ordem unida, à voz segura de comando, aumentava, como que querendo competir com a grandeza dos montes circundantes da bela cidade flaviense.
A canícula apertava e, lá longe, os incêndios fustigavam a terra, vomitando devoradoras línguas de fogo que tudo calcinavam, excepto a vontade de lutar pela vida. E quando calhava, um atalho conduzia o pelotão dos mais calorentos até às águas calmas do Tâmega, por entre os canaviais e os choupos dançantes. A propósito, quem não mergulhou nas melancólicas águas do rio, que dispare o primeiro tiro...
E depois, havia sempre um fim de semana para retemperar e recuperar energias junto dos familiares e dos amigos. De regresso à parada, o bornal abastecia-se com as iguarias regionais, onde reinava o paio e o presunto.




Wednesday, November 09, 2005

FORMAÇÃO DO BATALHÃO 5014

Tudo começou no Verão de 1973. Na época, o país encontava-se "orgulhosamente só", pois do estrangeiro, salvo raras ajudas economicamente interesseiras, as Nações Unidas veementemente vetavam o prosseguimento da guerra contra os grupos de libertação das províncias africanas. Por outro lado, o povo português, subjugado às rédeas do poder ditatorial, opunha-se à manutenção de uma luta fraticida, cujas principais consequências eram a perda e estropiação dos seus filhos e o empobrecimento acentuado da economia nacional.
Aos poucos, os militares foram chegando ao BC 10, o quartel da cidade de Chaves. Uma vez acantonados, os jovens militares, distribuídos pelas quatro Companhias do Batalhão, cumpriram um período de acelerada instrução teórico-militar, dita de preparação para a guerra de guerrilha a enfrentar nas densas e perigosas matas das ex-províncias ultramarinas.
Com o passar dos dias, e apesar das inúmeras dificuldades enfrentadas, irmanados pelo mesmo espírito, cada vez mais se cimentava o conhecimento, a solidariedade e a camaradagem entre todos.
Obrigados, sabíamos que tínhamos de ir combater para um continente estranho, para uma terra longínqua que não nossa, contra alguém, jovens como nós, que desconhecíamos _ assim como os seus ideais políticos.
Tudo suportámos para mais tarde podermos enfrentar, no nosso país, a luz dos dias, com um sorriso nos lábios, mesmo se estes sentissem o amargo paladar da dor.



Tuesday, November 08, 2005

"IREMOS ATÉ ONDE A PÁTRIA FOR"

"IREMOS ATÉ ONDE A PÁTRIA FOR"

Esta foi a divisa do Batalhão Expedicionário 5014.
Convém lembrar que, nas mais diversas e adversas condições, os nossos militares fizeram o que melhor souberam e puderam, perante as condicionantes político-militares reinantes à época.
É também imperioso recordar algumas palavras de um dos mentores da Revolução de Abril 1975:


"...fica claro que, a generalidade dos que fizeram a guerra, a fizeram porque a isso foram obrigados e não porque sentissem ser esse o seu dever." __ (Vasco Lourenço, capitão de Abril).

Este trabalho tem por base o Diário de Guerra da 2ª Companhia do Batalhão Expedicionário 5014, durante o período de comissão militar obrigatório no Zóbuè, província de Tete — Moçambique, de Novembro de 1973 a Dezembro de 1974, escrito pelo ex-furriel Araújo e publicamente apresentado, a 17 de Maio de 2003, no quartel militar de Chaves, aquando do encontro comemorativo do 30º aniversário da formação do Batalhão 5014.
Como tal, registamos a dedicatória do nosso Comandante de Companhia, no Prefácio do livro:

Para: "Todos os filhos desta nossa geração, que não teve juventude."



Monday, November 07, 2005

BATALHÃO DE CAÇADORES 5014

1973! Na cidade transmontana de Chaves, o Batalhão de Caçadores 5014 deu início à preparação militar tendo em vista o seu desempenho na Província Ultramarina de Moçambique. Chegados de dezenas de localidades portuguesas, mas com predomínio do norte do país, os militares apresentaram-se no BC 10. Aos poucos, a imposição da disciplina militar, o conhecimento das tarefas a efectuar, a aprendizagem teórica e prática do manuseio do armamento e o consciencializar-se para uma nova realidade, ainda que contra a própria vontade, contribuíram para moldar as quase quatro centenas de jovens, muitos deles imberbes, distribuídos por quatro Companhias: CCS, 1ª, 2ª e 3ª Companhias de Caçadores.

Sunday, November 06, 2005

BRAVOS DO ZÓBUÈ

BRAVOS DO ZÓBUÈ

Por que julgamos que os HOMENS devem ser recordados pelos seus feitos, em especial, pelos seus actos de bravura, em prol da Humanidade e, em particular, da sociedade na qual se inserem, iniciamos, hoje, e aqui, um BLOG sobre os BRAVOS MILITARES do Batalhão de Caçadores 5014 que, de 1973 a 1974, com enorme heroísmo, deram o seu melhor desempenho em defesa do seu país, PORTUGAL, na, então, Província Ultramarina de Moçambique, à época, sob o domínio colonial português.
Contamos com a colaboração dos militares deste batalhão, para um reavivar das "nossas" memórias, sem saudasismo, mas para que, através deste blog, se possa contactar entre nós, com crítica, sugestões e informações sobre os nossos militares, passados mais de três dezenas de anos sobre este importante acontecimento que marcou bem fundo a Alma e, em alguns casos, o Corpo de uma geração de jovens "lançados às feras" no matagal africano.
É nosso desejo, sempre que possível, registarmos aqui, vivências esquecidas, feitos olvidados pelo pó dos anos, camuflados nos parcos cabelos esbranquiçados que, airosamente, cobrem o nosso tecido mortal.
Desde já, um bravo VIVA a todos aqueles que "por obras valorosas se foram da lei da morte libertando", mas que permanecem com lugar cativo no fundo do nosso SER. Que todos eles descancem na paz eterna!.