SÁBADO, 1 DE DEZEMBRO DE 1973
Cinco horas da manhã. No parque-auto, os motores da Berliet e dos Unimog vibram com as primeiras rotações, num roncar, ora grave, ora agudo, provocado por acelerações cada vez mais fortes. Tanta barulheira despertou o aquartelamento.
Numa das tendas de campanha, servindo de dormitório para cinquenta homens, o soldado Vilela, bêbado de sono, aconchegou os lençóis e cobriu a cabeça com a almofada de esponja verde, descoberta.
— Toca a levantar, malta. — anunciou o 1º cabo Sousa.
Patusco, a quem fora confiada a tarefa de ajudar na cozinha, levantou-se de um salto e, enquanto enfiava o braço direito na manga da camisa, num ápice, puxou, para os pés da cama, o lençol branco, deixando a descoberto o corpo franzino e de carnes magras do Vilela.
— Acorda, malandro! São horas de ir para o mato! — gritou.
— Maldita sorte a minha. — lamentou-se Vilela, entreabrindo, a medo, os olhos, após uma demorada esfregadela.
— Bem que podia ter fugido para França. Burro, mil vezes burro! Besta! — exclamou de seguida.
— Isso, isso. Não te apresses e, depois, protesta por falta de tempo para o café. — retorquiu Patusco, ao abandonar a tenda.
— Qual café? Água preta. Aliás, tudo é preto nesta maldita terra. — bradou de novo o Vilela, ajeitando as cartucheiras, enquanto se dirigia para a arrecadação a fim de ajudar os companheiros no transporte dos cunhetes de munições.
O pequeno almoço foi tomado à pressa. Não há tempo a perder. Patusco, solícito, oferecia os seus préstimos, colocando grossas talhadas de margarina no quarto de pão branco e enchia de café, até transbordar, o caneco individual, de esmalte.
— Comei bem, rapazes. Precisais alimentar-vos bem para enfrentar os turras. Olhai que tendes muito para picar. E se precisardes de ajuda, é só chamar. Aqui o rapaz dá logo, logo, um pulinho e zás ... resolve-se a questão.
Mastigando, os últimos pedaços de côdea, alguns soldados subiram para a carroçaria das viaturas. Ocuparam os seus lugares e partiram para escoltar a coluna até ao Cruzamento.
A coluna, comandada pelo alferes Gonçalves, foi a primeira sob a nossa responsabilidade e saiu com 17 carros civis, quase todos camiões TIR.
Subindo morros e descendo ribeiros por entre capim molhado pelo cacimbo, os novos bravos da picada abriram fogo de reconhecimento. A caravana seguia lentamente após a passagem dos picadores que, cuidadosamente, iam sondando o trilho formado pelo rodado das viaturas nas constantes passagens.
Além dos aparelhos detectores de metais, habitualmente inoperacionais, os picadores serviam-se das picas — pedaço de ferro fino roliço e pontiagudo, colocado na extremidade de uma vara com cerca de um metro de comprimento — espetando-as na terra dura em busca de objectos metálicos explosivos, vulgo minas.
Por vezes, um som mais agudo despertava a curiosidade do operador da sonda que, quase por milagre, ainda conseguia funcionar. De imediato, o furriel especializado em minas e armadilhas ajoelhava-se, pronto a estudar a situação e afastava, com os dedos, a terra solta, no local indicado.
No rosto, a imagem de expectativa pelo encontro indesejável com o desconhecido é substituída por uma expressão de ânimo ao descobrir uma inofensiva carica de cerveja.
— Podia ter sido pior. — desabafou o técnico, soltando um profundo suspiro de alívio.A cena repetiu-se uma dezena de vezes ao longo de dois quilómetros. Depois, mais familiarizados com as diferentes intensidades de som nos auscultadores, os operadores tentavam captar sons agudos, indicadores de perigo iminente.
Numa das tendas de campanha, servindo de dormitório para cinquenta homens, o soldado Vilela, bêbado de sono, aconchegou os lençóis e cobriu a cabeça com a almofada de esponja verde, descoberta.
— Toca a levantar, malta. — anunciou o 1º cabo Sousa.
Patusco, a quem fora confiada a tarefa de ajudar na cozinha, levantou-se de um salto e, enquanto enfiava o braço direito na manga da camisa, num ápice, puxou, para os pés da cama, o lençol branco, deixando a descoberto o corpo franzino e de carnes magras do Vilela.
— Acorda, malandro! São horas de ir para o mato! — gritou.
— Maldita sorte a minha. — lamentou-se Vilela, entreabrindo, a medo, os olhos, após uma demorada esfregadela.
— Bem que podia ter fugido para França. Burro, mil vezes burro! Besta! — exclamou de seguida.
— Isso, isso. Não te apresses e, depois, protesta por falta de tempo para o café. — retorquiu Patusco, ao abandonar a tenda.
— Qual café? Água preta. Aliás, tudo é preto nesta maldita terra. — bradou de novo o Vilela, ajeitando as cartucheiras, enquanto se dirigia para a arrecadação a fim de ajudar os companheiros no transporte dos cunhetes de munições.
O pequeno almoço foi tomado à pressa. Não há tempo a perder. Patusco, solícito, oferecia os seus préstimos, colocando grossas talhadas de margarina no quarto de pão branco e enchia de café, até transbordar, o caneco individual, de esmalte.
— Comei bem, rapazes. Precisais alimentar-vos bem para enfrentar os turras. Olhai que tendes muito para picar. E se precisardes de ajuda, é só chamar. Aqui o rapaz dá logo, logo, um pulinho e zás ... resolve-se a questão.
Mastigando, os últimos pedaços de côdea, alguns soldados subiram para a carroçaria das viaturas. Ocuparam os seus lugares e partiram para escoltar a coluna até ao Cruzamento.
A coluna, comandada pelo alferes Gonçalves, foi a primeira sob a nossa responsabilidade e saiu com 17 carros civis, quase todos camiões TIR.
Subindo morros e descendo ribeiros por entre capim molhado pelo cacimbo, os novos bravos da picada abriram fogo de reconhecimento. A caravana seguia lentamente após a passagem dos picadores que, cuidadosamente, iam sondando o trilho formado pelo rodado das viaturas nas constantes passagens.
Além dos aparelhos detectores de metais, habitualmente inoperacionais, os picadores serviam-se das picas — pedaço de ferro fino roliço e pontiagudo, colocado na extremidade de uma vara com cerca de um metro de comprimento — espetando-as na terra dura em busca de objectos metálicos explosivos, vulgo minas.
Por vezes, um som mais agudo despertava a curiosidade do operador da sonda que, quase por milagre, ainda conseguia funcionar. De imediato, o furriel especializado em minas e armadilhas ajoelhava-se, pronto a estudar a situação e afastava, com os dedos, a terra solta, no local indicado.
No rosto, a imagem de expectativa pelo encontro indesejável com o desconhecido é substituída por uma expressão de ânimo ao descobrir uma inofensiva carica de cerveja.
— Podia ter sido pior. — desabafou o técnico, soltando um profundo suspiro de alívio.A cena repetiu-se uma dezena de vezes ao longo de dois quilómetros. Depois, mais familiarizados com as diferentes intensidades de som nos auscultadores, os operadores tentavam captar sons agudos, indicadores de perigo iminente.
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