Tuesday, November 29, 2005

QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 1973

A primeira noite, a caminho do interior da província, saldou-se por um acumular de insónias. O roncar grave do motor, os balanços da carruagem e, principalmente, as horríveis condições de acomodação são os responsáveis primeiros do cansaço matinal. Rói a lembrança do colchão da caserna, abandonado na Metrópole.
Pelas nove horas, chegámos a Mutarara. A continuação da viagem ferroviária teve lugar noutro tipo de comboio, com paragem em Doa, onde encontrámos os companheiros da 1ª Companhia do nosso Batalhão Expedicionário 5014. Às 18 horas, pudemos, finalmente, desembarcar no cais da estação de Moatize, vila onde predomina a exploração carbonífera.
A paisagem africana sempre despertara o nosso interesse. A aproximação geográfica com o continente negro é um facto consumado. Nos finais do século XIV, os nossos luso-antepassados iniciaram a aventura africana. Talvez por isso mesmo, o fascínio africano povoa o nosso espírito. Os sons exóticos da floresta, o colorido sensual do pôr do sol, os movimentos dançantes dos animais e os odores cosméticos flutuando no ar, em conjunto, contribuem para nos enlearmos na agridoce realidade africana.Aqui e ali, uma cantina, uma escola, uma casa ou uma ponte, como a imponente ponte sobre o rio Zambeze, entre Donana e Mutarara, perpetuam no tempo resquícios da presença lusitana em terras de Moçambique.


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