Tuesday, November 29, 2005

TERÇA-FEIRA, 27 DE NOVEMBRO DE 1973

Manhã cedo, depois de, pela vez primeira, vestirmos o camuflado, recebemos as espingardas automáticas G-3, as nossas novas e inseparáveis companheiras de trabalho, com a promessa de carinhosamente velarmos por elas. Novas, quer dizer, novos donos, porque elas já passaram por muitas, muitas mãos.
Duas unidades de ração de combate, made in África do Sul, entupiam o bornal. Adeus cidade. Adeus civilização.
Na estação ferroviária, o comboio apinhava-se de gente. Malas e embrulhos, trouxas e pacotes amontoavam-se no estreitíssimo corredor, complicando a passagem dos passageiros para os seus lugares. Um linguajar estranho, completamente imperceptível, mistura de dialectos, circula no ar.
Três apitos sinalizaram a partida em direcção ao noroeste, distrito de Tete. Embrenhados pela paisagem indígena, e ajudados pela baixa velocidade da máquina, a Companhia assimilava, pouco a pouco, a realidade desta terra africana. E a contrastar o estado de espírito acabrunhado da chegada, os nossos militares tinham estam-pada no rosto, a vontade férrea de vencer, de dar o chuto final na sorte matreira e muitas vezes traiçoeira.


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