Wednesday, November 16, 2005

DESPEDIDA DE CHAVES

Foi-nos dito que tínhamos sido contemplados com 15 dias de férias, pelo bom desempenho ao longo dos últimos tempos. Grande mentira! Como se não tivéssemos direito às férias de mobilização! Graças a esta deliberação, publicada em Ordem de Serviço, iniciou-se o processo de devolução do material fornecido pelo quartel. E o arrumar da mala torna-se já um hábito rotineiro. Ora arruma, em seguida desarruma, para depois voltar a arrumar e assim por diante. Desta vez, temos que aproveitar todos os momentos para revisitar os lugares e pessoas mais queridos, porque a despedida aproxima-se. E quantos de nós estarão certos do seu regresso ao lugar, à terra que o viu nascer? Nenhum!
Da nossa passagem por Chaves, jamais esqueceremos o tempo vivido no “hotel militar”, como pomposamente é conhecido o BC 10.
E os passeios pelas ruelas da zona histórica citadina; e o salto a Verin, terra de Espanha, para comprar caramelos ou pelo simples gozo de atravessar o rio, de jangada, enfrentando os tiros da velha mauser da Guarda Fiscal; e a ameaça de prisão feita pelo Cabo da Guarda de Fronteira, transportando-nos, no desengonçado Land Rover até à porta de armas, como se o simples facto de estarmos mobilizados não fosse pior que uma ida até à “casa da rata”; e os fins de tarde na esplanada dos cafés Aurora, Ibéria e Sport; e os piropos atirados às belas estudantes, acabadas de sair do liceu; e as saborosas iguarias da restauração flaviense; e os imigrantes, regressando de “vacances”, na sua máquina, último grito de marca, sempre a esgalhar, desafiando o perigo oculto em cada curva da estrada do nordeste transmontano; e o ferrugento “comboio texas a carvão”, arrastando-se na via estreita, “pouca-terra, pouca-terra”, a vomitar faúlhas para o manto verde da paisagem natural do vale do Tâmega; e a água borbulhante, tragada nas termas do Passeio Público, à beirinha da secular ponte romana dos arcos; e os animados bailaricos com jovens e anciãos dando o seu pezinho de dança, por ocasião das festividades religiosas das freguesias circundantes; e os passeios sem rumo definido nas ruas de Santo António e Direita; e os três meses de inferno, por oposição aos nove de inverno; e a prevenção ordenada na sequência dos desacatos públicos, com a “espanhola” hasteada no mastro da “verde-rubra, aquando da secretariada despromoção do clube local; e a convicção orgulhosa dos flavienses ao afirmarem que “além do Marão, mandam os que lá estão!”.

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