Sunday, December 03, 2006

DOMINGO, 8 DE DEZEMBRO DE 1974

A morte teima em seguir-nos até ao último instante da nossa presença nesta terra mártir. Duvidamos que deve existir uma relação de ódio-amizade com a nossa Companhia. Ou então perseguição pura.
Como se já não bastassem todas as baixas que tivemos, mesmo nas vésperas da nossa partida, a morte reincidiu em marcar a sua presença fúnebre junto de nós.
É incrível como no final de uma comissão, ultrapassadas tantas e tantas ratoeiras do mato, se pode dar de caras com a morte, emboscada junto da porta de armas.
O soldado mecânico Cunha morreu! Atropelado à saída da porta do quartel. É a ingratidão da vida sempre a pregar partidas, quando menos se espera. Razão teria, aquela mulher do mato, exasperada pelas contínuas contrariedades diárias, para maldizer:
— É melhor suportar a vida de puta do que aturar a puta da vida!
Tente-se imaginar a reacção da família, já conhecedora do seu feliz regresso a casa, agora ao ser alertada para a comunicação oficial desta triste notícia, através de um telegrama endereçado pelo Ministério do Exército.

“Sua Excia, o Senhor Ministro, incumbe-me de levar ao conhecimento de Vossa Excia, a morte do vosso querido filho, tombado em operações militares, ao serviço da pátria ...”

— Descansa em paz, companheiro Cunha!

O Batalhão inicia o regresso a Lisboa, no dia 11, com a viagem da CCS. No dia seguinte, será a vez da 1ª Companhia.
— Boa viagem, companheiros!


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