Sunday, November 19, 2006

SEXTA-FEIRA, 29 DE NOVEMBRO DE 1974

Outra data para ser comemorada no dia de hoje. Um ano de Zóbuè.
Os dias e as noites sucedem-se como que cada vez mais lentos. Os ponteiros do relógio parecem que trabalham num ritmo mais preguiçoso. O desejo de regressar a casa é enorme. Em Portugal, a democracia, com alguma tremedeira, vai tentando consolidar o seu lugar, apesar dos inúmeros perigos que enfrenta. Por cá, nas conver-sas diárias com os camaradas da Frelimo descobrem-se verdades sobre o tempo da guerra, trocam-se impressões sobre as emboscadas, sobre as minas, sobre as flagelações, sobre os golpes de mão, enfim, sobre tudo o que diz respeito à vivência militar nesta zona. Conhe-cemos a cara daqueles que no dia tal estiveram emboscados ou que colocaram as minas accionadas ou que não rebentaram.
Ficamos a saber que o quartel esteve cercado, durante a realização de um desafio de futebol, em dia de Natal, e que só não executaram o golpe de mão porque dois militares, em rendição no posto do furo da água resolveram disparar à toa. Tomámos conhecimento que a Companhia só não foi atacada com morteiros, como previsto, graças à insistente solicitação dos indígenas residentes nos diversos aldeamentos da vila, alegando terem sido sempre muito bem tratados por esta Companhia, cujos militares, além de simpáticos e amigos, respeitavam a população.
Hoje, come-se e bebe-se e vive-se, lado a lado. Os inimigos de ontem irmanados pelo mesmo objectivo: libertar Moçambique do domínio colonial e libertar Portugal do jugo da ditadura salazarista.


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