Thursday, November 26, 2009

A FORÇA DA SAUDADE


"COMO OUSA ESTA SAUDADE

SE INSTALAR DENTRO DE MIM,

SE MANDEI BLINDAR MEU CORPO

P'RA NÃO MAIS SOFRER ASSIM...



SÓ AGORA EU ENTENDI

O PORQUÊ DESTA INVASÃO,

UM CORPO AGENTE BLINDA,

MAS JAMAIS UM CORAÇÃO."



(N. Rogero)


A NOSTALGIA DA SAUDADE ... ?



O que de facto sentimos em relacção ao passado, neste caso concreto, sobre a nossa passagem por terra de Moçambique que poderá ser? SAUDADE? Esse sentimento humano da nostalgia, bem caracterizado por este vocábulo bem lusitano! Que estará por detrás de tudo isto? Por certo, a nostalgia do tempo da tropa: o camuflado trasando a suor e terra, o corpo embrenhado em sangue, suor e lágrimas, a estúpida ordem unida, a alimentação empastelada e grunhida pelos començais, o "IN" espiando camuflado na mata, o nervoso miudinho preste esplodir a cada instante, a desejada espera do aerogramo proveniente da Metrópole, as "bocas rafeiras" projectadas contra o comando institucionalizado, ... etc, ... etc, ... ! O que parece termos é uma virose de nostalgia. A tal saudade de sermos novos, ainda que impotentes perante os ministeriais desmandos burocráticos emanados pelos senhores da guerra. Talvez o poema do Nobel polaco, Czeslaw Milosz, CAMPO DEI FIORI, tente explicar o sentir inexplicável: "Nesse dia só pensei / Na solidão do morrer." E o som da metralha continua zunindo no subconsciente, enquanto não chega a hora da despedida.

Wednesday, November 25, 2009

ADEUS... ATÉ AO MEU REGRESSO... 36 ANOS



Hoje, 25 de Novembro de 2009, completam-se 36 anos da partida da 2ª Companhia do Bat. Caç. 5014 para Moçambique.
Recordo-me como se fosse neste momento: teluricamente, dirigimo-nos para o grande pássaro metálico, cinzento, da FAP. A curiosidade paisagística foi alimentada com a anuência do 1º cabo Sousa, o 4L, que não morria de amores para viajar de avião. Assim, ganhei direito a um assento junto da janela. E pude seguir o evoluir da descolagem do avião na pista do aeroporto de Lisboa... a ascensão segura sobre a capital, enquanto o Cristo Rei, em Almada, como que envergonhado, escondia-se no seio de uma pequena nuvem e o avião, rodando para bombordo, rumava para sul, embrenhando-se no ventre da escuridão nocturna. Castrava-se a esperança de uma ordem que nunca chegou. faziam-se promessas às divindades. Remoiam-se conjecturas.
Um dia, havia de voltar. Semeavam-se novos sonhos, novos objectivos. E o sono carregava o cansaço.

Adeus... até ao meu regresso!

INTERREGNO...


Quase três longos anos de interregno este blog alimentou. Felizmente, a vida continuou. E quase todos os sobreviventes, desde a data do último post ainda fazem parte do mundo dos vivos.

Entretanto, e retomando o tema, hoje, os personagens desta narrativa apresentam-se muito mais experientes e mais calejados pelo ritmo e trabalho diários.

Constituíram-se famílias. Os filhos nasceram. Os pais, pesarosamente, alguns libertaram-se da lei da morte. A vida continua. Com altos e baixos. A saúde começou a emperrar, em alguns casos. A fisionomia também se alterou. Dilatou-se o abdomem. O cabelo esbranquiçou. A calvície fez-se notar. Importante também, a amizade consolidou-se, dia após dia. Descobriu-se o paradeiros dos intervenientes, residentes algures, de norte a sul do país. E outros habitando no estrangeiro. Os encontros anuais muito contribuem para tal. Da nossa parte, tentaremos continuar com esta narrativa, sempre que possível, reportando as nossas novas experiências e os anseados encontros dos militares da Companhia.