Sunday, December 03, 2006

QUARTA-FEIRA, 17 DE DEZEMBRO DE 1974

A bordo, não se canta, grita-se. De copo na mão, durante quase toda a santa viagem, muitos militares extravasam a euforia que lhes invade a alma pelo momento presente. Muito tem que suportar a tripulação de cabina deste imenso pássaro metálico. Lugares como o 25D, destinado ao soldado Barbosa, só conseguiram suportar o peso de um corpo durante as operações de descolagem e de aterragem.
Incrível é, pois, descrever a alegria incomensurável destes corações, transbordando a rodes e trabalhando em ritmo acelerado.
Ao longe, já se vislumbram as luzes do solo pátrio. A Ponta de Sagres e o Cabo de S. Vicente desafiando o vasto oceano. Pouco a pouco, o avião, afrouxando os motores, executa a aproximação à capital da nação.
E as casinhas brancas emergindo do vasto solo alentejano já só fazem antever o lar, doce lar, onde poderemos, enfim, abraçar o calor fumado da lareira e respirar o suave aroma da casa portuguesa.
Lá em baixo, o Tejo, brilhando sob o luar argentino, parece correr célere ao nosso encontro, enquanto, de braços abertos, prontos para nos receber, a estátua iluminada do Cristo-Rei, em Almada, dá-nos as boas-vindas à pátria que nos viu nascer.
E de nariz colado ao vidro da janelita do avião, o soldado Sousa Silva, em silêncio, agradece a Deus Pai Todo Poderoso a graça divina de, são e salvo, poder reencontrar a família dentro de breves instantes.


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