Sunday, December 03, 2006

QUARTA-FEIRA, 17 DE DEZEMBRO DE 1974 (Continuação)

Meia-noite e trinta minutos. O grande pássaro com a 2ª Companhia do Batalhão Expedicionário 5014 a bordo pousou. Quando o trem do avião beijou, chiando, o alcatrão da pista 03 do aeroporto da capital, estrondosa ovação eclodiu na cabina. Foi o concretizar de um sonho. Voltávamos a pisar o solo pátrio.
E depois ... uma vez recebida a guia de marcha para casa e escutada em sentido a última ordem militar ...
— Companhia, destroçaaar!!!
... os militares encetaram uma doida correria ao encontro dos familiares presentes no outro lado do portão de Figo Maduro, empunhando cartazes e dísticos com frases de apoio aos seus filhos, irmãos, namorado, noivo e amigos, acompanhados por uma fanfarra que debitava cançonetas e modinhas portuguesas — Ó Laurindinha, A Festa do Zé — alternadas com a canção mais escutada em Portugal desde o 25 de Abril e contra-senha para o avançar da Revolução dos Cravos, — Grândola, Vila Morena — a qual é a única responsável pelo nosso regresso antecipado à terra que nos viu nascer e crescer e que um dia, no 25 de Novembro de 1973, nos enviou para bem longe dos nossos ente queridos, para Moçambique.
Consciente do dever cumprido em defesa das populações, este punhado de bravos da picada, imbuído no espírito de solidariedade que reforça a amizade entre os seres humanos, sabe que algures, no meio da multidão, os furriéis ilhéus, Gabriel Medeiros e Lídio Araújo, sem um único parente ou amigo, com quem compartilhar todo o regozijo e prazer que aquele instante presenteava, emocionados, enlearam-se num abraço de companheirismo e mútua amizade, quadro fiel de gente feliz com lágrimas, deixando extravasar a alegria sentida no seu coração insular.
— Que fazemos, aqui, no meio desta gente, ó corisco mal amanhado?
— É verdade. Esta não é a nossa festa, madeirense de uma semilha!

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