Wednesday, April 26, 2006

SEXTA-FEIRA, 26 DE ABRIL DE 1974

Toda a gente acordou a respirar a liberdade. Os rostos confirmavam a alegria que invadia o coração. Fez-se uma enorme caça às notícias difundidas sobre os acontecimentos que tinham lugar em Lisboa.
Portugal encetou uma nova era, uma nova forma de vida. A democracia nasceu, ontem. É preciso criá-la e fazê-la crescer em segurança para o bem de todos os portugueses.
Quem não deve ter gostado da mudança? O Administrador Civil e o chefe da PIDE-DGS com o seu séquito de bufos, pois amiúde, entrando e saindo no quartel e com reuniões sistemáticas com os oficiais, não estão muito seguros com a situação presente. Será que lhes pesa a consciência pelos crimes praticados sob a capa da ditadura?
Será que os eventos narrados pela população, de homens e mulheres atirados a soco e a pontapé, sem dó nem piedade, para dentro do braseiro das cubatas, não foram, nem são do conhecimento das ditas altas esferas governamentais? Ou nada foi provado? Ou será que ainda se alimenta o conceito que o preto é o pobre diabo por oposição ao mezungo que é suposto saber o que é bom como um deus na terra africana? Pobres deuses com pés de barro!
Para comemorar a queda da ditadura fascista, de manhã, o Capitão ordenou que a bandeira nacional fosse içada no mastro com as devidas honras militares.
Com toda a Companhia em formatura na parada e ao som do toque de corneta, lentamente, a bandeira verde rubra, ostentando as cinco quinas portuguesas, galgou o mastro e, impelida pelo vento, permaneceu todo o dia, desfraldando uma vertiginosa dança sob os raios dourados do sol africano.

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