Friday, April 21, 2006

QUINTA-FEIRA, 25 DE ABRIL DE 1974

Quarto e último dia da Operação. As notícias das 6 horas da manhã, na rádio de Lourenço Marques, foram suprimidas. Em substituição, escutou-se música clássica. Coisa rara!
— Alto. Ou morreu tubarão, ou houve merda! — exclamou o furriel Araújo para o companheiro de patente, Ventura Rocha.
Os homens do pelotão, um a um, saíram do abrigo nocturno e encetaram a derradeira caminhada pelo mato, silenciosos e cabisbaixos.
A curiosidade motivou nova escuta às 7 horas. E de novo a mesma música clássica substituindo o noticiário habitual.
— Gomes, passa-me o Racal. — pediu o comandante do grupo.
Sintonizado o rádiotransmissor nas ondas hertzianas da África do Sul, da Rodésia e do Malawi, foi com surpresa, mas também com imensa expectativa que o furriel madeirense deu a conhecer a notícia, a todo o pelotão, traduzindo as palavras difundidas para todo o mundo.
— Pessoal, temos uma boa novidade. Houve um golpe de estado em Portugal.
De imediato, impulsionados por estranha força interior, todos — brancos e negros — quiseram obter mais informações.
— Furriel, e a guerra vai acabar? — perguntou o cabo Eusébio, da incorporação local.
— Contacte o quartel, meu furriel. — berrou o Patusco.
— Pode ser que a gente regresse amanhã para a Metrópole. — acrescentou o Viana.
— Calma, calma! Deixem-me ouvir as notícias. Mantenham a segurança. — ordenou o furriel Araújo.
Várias foram as frequências radiofónicas sintonizadas. Todas elas se referiam a mais um feito grandíloquo dos lusitanos. Sem derramamento de sangue.
No quartel, a novidade fora apresentada pelos padres do Seminário, cerca das 7h30.
A confirmação oficial chegou quando foi estabelecido o contacto com a Companhia e do outro lado do fio o 1º cabo Gabriel gritou a plenos pulmões:
— Liberdade, meu furriel. Portugal está livre. O Américo Tomáz e o Caetano foram postos fora do governo. Estamos livres da escumalha.
Obtida a permissão para regressar ao quartel só depois das 15 horas, ao aproximar-se da porta de armas, o pelotão foi recebido em apoteose com vivas à liberdade e a Portugal. A alegria voltou a brilhar na face dos militares portugueses. Digamos que o quartel está em festa. Bebe-se para festejar a implantação da democracia. Bebe-se, sonhando o regresso antecipado ao lar tão distante, na Europa. Bebe-se, aspirando o fim da guerra. O MFA, Movimento das Forças Armadas, tomou conta do governo do país. O povo saiu à rua ao lado das Forças Armadas.
— O Povo está com o MFA.

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