SEGUNDA-FEIRA, 1 DE ABRIL DE 1974
Dia das mentiras. Segundo a tradição popular, muitas e boas mentiras vaguearam neste espaço. As melhores? Que vamos mudar para Moatize. Que o Sporting – Benfica, de domingo, vai ser repetido, porque a equipa de arbitragem estava dopada. Que a guerra está quase a acabar.
A coluna ainda não chegou. Continua atascada no inferno da picada. S. Pedro abriu as torneiras do céu para limpeza e não se sabe quando as vai fechar.
Próximo da hora do rancho, os mainatos aparecem aos bandos, nus, com o umbigo em forma de batata, empurrando-se ou às rixas na fila improvisada junto à cozinha. Com as latas em folha, já deformadas, esforçam-se por conseguirem ser aceites pelos cozinheiros e autorizados a mergulhar no panelão da sopa ou da massa. Ou aguardam impacientemente, a sua vez para raspar o arroz do tacho, ganhando um pouco de comida para si e familiares, das sobras do quartel.
— Mona, vai lavar estas colheres, se quiseres ser o primeiro a comer. — ordenou o cozinheiro Tavira a uma criança com cerca de oito anos.
De imediato, um cacho de mãos, de todos os tamanhos e de todas as idades, elevou-se em direcção do braço do cozinheiro, gritando:
— Eu vô! Eu vô!
A grande maioria dos mainatos é composta por crianças dos cinco aos doze anos, subnutridos, esfarrapados e sem escolaridade que vagueiam pelo quartel, voluntários, sempre prontos a executar qualquer trabalho. Nada mais querem senão comida e protecção.
Uma vez por semana, levam a roupa suja para ser lavada no rio e trazem-na fresca e passada a ferro, quase sempre pelas suas próprias mãos, recebendo em troca 50$00 mensais.
— Esta roupa está mal lavada. Não vou querer-te mais como meu mainato. — afirmou o furriel Costa.
— Xi, meu furriel. Nã faz isso, nâ! Jura mesmo! — solicitou o pequeno Sebastião, com os olhos salientes e vermelhos.
— Eu precisa matambira para mãe. Eu precisa comer também. — acrescentou o pequeno mulatinho, começando a fazer beicinho.
— Iúa, se na próxima semana a roupa não vier branca, vais trabalhar para a machamba. E não tens comer da tropa. Ou vais semear minas na picada? — ripostou o furriel.
— Ih!, meu furriel. Tem noite que mainato deita no esteira sem comer. Depois como que vai trabalhar? Nã pode, nã. Mãe doente no casa.
Filhos de pai incógnito, não raras vezes fruto de aventuras periódicas de alguns tropas europeus, os pequenos mainatos são uma constante, percorrendo o pátio interno do quartel. Querem actividade. Querem ajudar, não importa quem, nem onde, nem quando, mas de preferência na cozinha ou em tarefas de faxina.
A coluna ainda não chegou. Continua atascada no inferno da picada. S. Pedro abriu as torneiras do céu para limpeza e não se sabe quando as vai fechar.
Próximo da hora do rancho, os mainatos aparecem aos bandos, nus, com o umbigo em forma de batata, empurrando-se ou às rixas na fila improvisada junto à cozinha. Com as latas em folha, já deformadas, esforçam-se por conseguirem ser aceites pelos cozinheiros e autorizados a mergulhar no panelão da sopa ou da massa. Ou aguardam impacientemente, a sua vez para raspar o arroz do tacho, ganhando um pouco de comida para si e familiares, das sobras do quartel.
— Mona, vai lavar estas colheres, se quiseres ser o primeiro a comer. — ordenou o cozinheiro Tavira a uma criança com cerca de oito anos.
De imediato, um cacho de mãos, de todos os tamanhos e de todas as idades, elevou-se em direcção do braço do cozinheiro, gritando:
— Eu vô! Eu vô!
A grande maioria dos mainatos é composta por crianças dos cinco aos doze anos, subnutridos, esfarrapados e sem escolaridade que vagueiam pelo quartel, voluntários, sempre prontos a executar qualquer trabalho. Nada mais querem senão comida e protecção.
Uma vez por semana, levam a roupa suja para ser lavada no rio e trazem-na fresca e passada a ferro, quase sempre pelas suas próprias mãos, recebendo em troca 50$00 mensais.
— Esta roupa está mal lavada. Não vou querer-te mais como meu mainato. — afirmou o furriel Costa.
— Xi, meu furriel. Nã faz isso, nâ! Jura mesmo! — solicitou o pequeno Sebastião, com os olhos salientes e vermelhos.
— Eu precisa matambira para mãe. Eu precisa comer também. — acrescentou o pequeno mulatinho, começando a fazer beicinho.
— Iúa, se na próxima semana a roupa não vier branca, vais trabalhar para a machamba. E não tens comer da tropa. Ou vais semear minas na picada? — ripostou o furriel.
— Ih!, meu furriel. Tem noite que mainato deita no esteira sem comer. Depois como que vai trabalhar? Nã pode, nã. Mãe doente no casa.
Filhos de pai incógnito, não raras vezes fruto de aventuras periódicas de alguns tropas europeus, os pequenos mainatos são uma constante, percorrendo o pátio interno do quartel. Querem actividade. Querem ajudar, não importa quem, nem onde, nem quando, mas de preferência na cozinha ou em tarefas de faxina.
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