Tuesday, April 11, 2006

SEGUNDA-FEIRA, 25 DE MARÇO DE 1974

A 2ª Companhia continua cultivando o luto. Perdeu outro homem. À tarde. Em Moatize. O 1º cabo Sousa, do 1º pelotão, vítima de acidente de viação perdeu a vida, num encontro imediato, frontal, do jeep, com outra viatura militar. O simpático e sempre alegre piloto do Renault Gordini, vermelho, o Sousa “apagou-se” num estúpido acidente. A propósito, haverá acidentes que não sejam estúpidos? Não! Todos eles são estúpidos! Num ápice, todos os projectos delineados pelo divertido e orgulhoso chefe de família, para depois do seu regresso ao Minho, volatizaram-se no quente e assassino alcatrão de uma recta africana. Espera-o a sua última montada, sem cavalos a roncar, sem estofos de napa, nem cromados reluzentes. Aguarda-o uma fria caixa cinzenta de chumbo.
O Sousa, vencidas as inúmeras corridas nas estradas nacionais, para não se atrasar a chegar ao quartel, “ganhou”, contrariado, a sua derradeira corrida rumo ao Além.
E talvez a sua viúva venha a ser convidada pelo Regime, para receber, no 10 de Junho, dia da raça lusitana, no Terreiro do Paço, uma medalha a título póstumo.
— Que descanse em paz!

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