Thursday, April 13, 2006

DOMINGO, 14 DE ABRIL DE 1974

É Domingo de Páscoa! O sol apareceu. As novidades são quase sempre as mesmas. A coluna da Companhia sofreu uma pequena flagelação, sem consequências. Talvez algum turra irreverente a testar a sua nova Kalash.
— Turra de um cabrão, aparece, dá cara que eu trato da tua saúde. — gritou um soldado, disparando uma rajada de metralhadora para o interior do capim.
— Seu pulha de merda. Seu barrote queimado, vem à picada. — berrou outro soldado, espumando raiva, com a G-3 em punho, metralhando o mato.
À noite, houve batuque. Com a população reunida em círculo, à volta dos tambores, os dançarinos, trajando a rigor nas suas vestes solenes e ostentando pinturas na face e nos membros, de acordo com as tradições ancestrais, executam danças e contorções dignas dos mais maleáveis artistas de circo; ora rastejam na terra seca, ora saltam e desenham no ar artísticas piruetas, armados com arcos, setas e lanças, utensílios etnográficos usados na caça e nas guerras de antanho. Durante todo o festejo, o povo, com predomínio para as mulheres, acompanham o desempenho dos dançarinos e dos tocadores de djumbé, com cânticos a várias vozes e batem palmas numa polirritmia bem acentuada.


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