Thursday, February 16, 2006

SEXTA-FEIRA, 22 DE FEVEREIRO DE 1974

Os maus humores fabricados pelo órgão mais volumoso do corpo humano fizeram-se notar pela 2ª vez. O furriel madeirense parece uma chaminé a fumar — dois maços e meio de Commodoro, por dia, — uma torradeira de café — seis a oito bicas diárias, — e afoga as suas mágoas na bebida americana. Já começa a desafinar o organismo.
— Antes de sair para o mato, nada melhor do que a Coca Cola para secar. No regresso, a Fanta faz vazar. — afirma seguro o ilhéu, orgulhoso pelo recorde de 10 dias consecutivos sem defecar, batido há poucos dias.
À noite, ia havendo zaragata da grossa. Os soldados indígenas, do contingente local, pegaram-se, vá-se lá saber porquê. Falou-se de razões de saias com as muanas do bairro do quartel. Encontros fortuitos e ciúmes nas tabancas.
O soldado Castigo e o 1º cabo Salimo, regressados da san-zala do outro lado da estrada, com o andar desengonçado, atravessaram a parada aos tropeções.
— Eh! Pessoal. Onde foi a festa? Isto são horas de chegar ao quartel? — perguntou o furriel Araújo aos seus subordinados do pelotão.
— A gente vem dali, da mulher. — respondeu o Castigo, sorrindo.
— Com que então, dali. E a mulher deixou? — questionou o furriel.
— Deixou, claro. Mulher deixa sempre, meu furriel. — respondeu o soldado, despoletando um sorriso matreiro.
— Meu furriel, não ligue. Estão todos grossos maningue. É só cachaça!— afirmou o 1º cabo Eusébio, com os dentes alvos emergindo do seu sorriso matreiro e também ele com mulher na tabanca.
Alguns tropas brancos entraram na rixa, para pôr cobro ao desacato, porém não foram bem vistos pelos companheiros moçambicanos.
Os ânimos exaltaram-se. O soldado Barbosa acabou partindo a coronha de uma G-3 nas costas de um soldado negro, quando este se aprestava para agredir o alferes Casalta. Podia ter dado para o torto. O soldado Madjé, bêbado que nem um borracho, cambaleava por todo o sítio, cantando e gritando no seu dialecto. De vez em quando puxava a culatra da G-3 e disparava para o ar. Foi necessário o seu furriel, Ventura Rocha, agarrá-lo e ameaçá-lo de prisão, depois de apanhar umas valentes sacudidelas, para que tomasse consciência do perigo da situação. Tudo efeito da maldita da cachaça. Depois de alguns conflitos entre brancos e negros, os graduados conseguiram pôr termo à rebelião.
Mais uma inovação do capitão. Foi proibida a ida do pão fresco para a messe, mais cedo do que o costume. Porquê? Ultimamente, o nosso maior anda com umas ideias estranhas. Estará também ele a ficar apanhado pelo clima?


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