Thursday, February 16, 2006

DOMINGO, 17 DE FEVEREIRO DE 1974

De novo, na picada. Sob a responsabilidade do alferes Gonçalves, a coluna pôs-se em marcha, ao romper da aurora.
Na cantina do Delfim, ponto obrigatório de paragem, enquanto o pessoal da coluna se empanturrava com os frangos assados, batata cozida e com arroz, tudo bem regado com cerveja, o informador falou das movimentações do IN nas proximidades:
— Cuidado, há novidades na zona. E não posso adiantar mais nada! — avisou o homem.
A primeira parte do percurso decorreu sem qualquer anormalidade com pernoita em Capirizange.
A pernoita nesta localidade, de simples passagem rodoviária, com apenas um aldeamento, permite consolidar a camaradagem entre as duas Companhias do mesmo Batalhão. E, não raras vezes, a tensão bélica dos militares é disfarçada à custa de estórias tão singelas como os seus principais intervenientes.
Numa das últimas noites, por volta das três horas, estando de sentinela à porta de armas, o 1º cabo Passarinho, da secção da 2ª Companhia, destacada sob o comando do capitão Freitas, cismou ver uma multidão de turras, fumando, em aproximação ao seu posto. O medo apoderou-se de si e, de repente, ei-lo a metralhar o capim, sem dó nem piedade. Sobressaltada, toda a Companhia lançou-se para os abrigos, procurando ripostar ao inimigo silencioso.
— O que é essa merda, aí, ó nosso cabo? — gritou o sargento de dia, furriel Alberto Araújo.
— Os tur ... tur ... ras vêm al ... ali. — respondeu o sentinela, aproveitando o ensejo para despejar outra rajada na direcção do mato.
— Quais turras, qual carapuça? Onde é que estão? Quantos são?
— Mil ... lhares de to ... dos os la ... la ... dos. — retorquiu o 1º cabo, mais trémulo que uma vítima no altar do sacrifício.
— Quais turras, seu ignorante? As luzes que vês são pirilampos! Pi-ri-lam-pos! Ouviste cabeça de matope?
Depois uma valente descompostura na presença do capitão da Companhia, o militar, que jamais vira, em toda a sua curta vida, um único exemplar de insectos coleópteros, jurou nunca mais voltara confundir os simpáticos animais com o IN.


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