Saturday, February 11, 2006

DOMINGO, 10 DE FEVEREIRO DE 1974

O condutor da SWIFT, um negro forte, já entrado na casa dos cinquenta anos e com o abdómen bastante saliente, refugiou-se debaixo do camião, protegendo a cabeça com os braços e as mãos, e gritava:
— My God, Oh! Shit! I’m gonna die!
— Porra. Tenho medo! — sussurrou o cabo Gomes, das transmissões.
— Deixa-te de merdas e pede auxílio à Companhia. Pede os pássaros a Tete. Rápido. — ordenou o furriel.
Cada vez mais zuniam as balas e os silvos agudos assobia-vam cruzados sobre as NT dispersas ao longo da picada e divididas em dois pequenos grupos separados por uma longa curva.
No quartel, a solidariedade acontecia. Todos queriam partir em socorro dos companheiros de armas. Foi necessário uma enérgica intervenção do capitão Carvalho, para que todos retornassem aos seus postos.
Ao fim de noventa minutos de intensa luta, foi possível ouvir-se o roncar dos motores dos Fiats, sobrevoando a zona de intervenção. Estabelecido o contacto terra-ar, as aves, depois de uma volta de reconhecimento à área, metralharam e napalmizaram a zona de combate, contribuindo para a retirada dos turras.
Feito o reconhecimento posterior à luta, as NT nada sofreram. No mato, algumas poças de sangue encharcavam o solo, polvilhado de algodão e de compressas.
O encontro do pessoal da Companhia foi emocionante, sobretudo depois de sabermos que, salvo três atiradores, o grupo excur-sionista era composto por um grupo de aramistas: corneteiro, rádiotelegrafista, amanuense, escriturário, cozinheiro, furriéis enfermeiro, vague-mestre e mecânico, todos sob a batuta do furriel Guedes. Regressados ao quartel, onde foram recebidos com muito entusiasmo, o furriel madeirense cogitou para com os seus botões:
— Que linda prenda para comemorar os meus 16 meses de tropa: o baptismo de fogo de guerra!


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