Tuesday, January 31, 2006

TERÇA-FEIRA, 29 DE JANEIRO DE 1974

As nossas colunas, por serem especiais e seguirem uma via rodoviária muito importante para Moçambique e países vizinhos, exigem de todos nós demasiado esforço e concentração perante os obstáculos que se nos deparam. Quando não são as viaturas militares, muitas delas em condições obsoletas, são os carros civis. Ou as mi-nas que nos pregam partidas, numa espécie de jogo da cabra-cega.
No regresso à nossa casinha, a partir de Mussacama, a coluna cresceu com a introdução de três viaturas militares requisitadas para transportar os civis do aldeamento que serão transferidos para o Zóbuè. Como se não bastassem as dificuldades inerentes à própria coluna, o motorista de um camião civil, autêntica besta quadrada, entalou a sua viatura numa vala, à beira da picada. Quantas mais ten-tativas fazia para retomar a estrada, mais piorava a situação. Como um mal nunca vem só, o rádio-transmissor também deixou de funcionar, ficando a coluna isolada do resto do mundo. Que fazer? Aban-donar a viatura? Deixar uma secção a protegê-la? Ou colocá-la sob a responsabilidade da milícia local? Após várias horas de alguma an-gústia e muita confusão, perdidas com a ocorrência, _ Fiat Lux _ o alferes resolveu aceitar a proposta do furriel Marques: descarregar o camião. Executada a operação, facilmente, a viatura regressou à estrada e, à força de braços e com a colaboração de todos, o “animal” foi recarregado com os 9000 Kg de farinha que trazia.
Próximo do Zóbuè, nova contrariedade se deparou. Com o esforço despendido para repor o camião na estrada, o rebenta-minas queimou o disco de embraiagem, tendo de seguir a reboque de uma das Berliets que integravam a coluna.
À entrada da vila, a viatura da 3ª Companhia que abria a coluna, foi atingida pelo desgaste do material, de modo que, cerca das 21 horas, finalmente, a coluna arribou ao quartel, para surpresa dos residentes na vila, com duas viaturas militares a reboque. Foi um trabalho duro, duro. Mas o facto de podermos saborear um pouco de comida quente, mesmo que empastelada, e o esqueleto conseguir acamar-se na esponja amarela do catre, vale todo o esforço suple-mentar que se possa fazer. Pena a pele não conseguir ser acariciada pelas gotas de água que teimam em faltar ao nosso convívio.

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