Tuesday, January 31, 2006

QUARTA-FEIRA, 23 DE JANEIRO DE 1974

Finalmente, pela tarde fora, duas Berliets e dois camiões Toyota, adidos à 3ª Companhia, surgiram ao sair de uma curva fechada, ao encalço do grupo e dos restantes elementos do pelotão para transportar todo o material do destacamento.
Durante a longa caminhada, alguém descobriu uma ave de grande porte pousada no cimo de uma altíssima árvore. Passada a informação, num ápice, estava pronto um pelotão de fuzilamento com a pontaria afinada, prestes a executar o indefeso animal.
— Que ave será? — perguntou-se.
— Um mocho!
— Não. É uma águia.
— Alto! Ninguém dispara! — gritou o furriel ilhéu.
Fosse o que fosse, estava condenado à morte.
— Furriel, pago-lhe uma “bazuca” se acertar. — desafiou o soldado Patusco.
— Ok! — respondeu o graduado.
Aceite a aposta, o comandante do grupo apontou a arma e PUMM! Numa fracção de segundo, a ave tombou inerte na mata.
— Que pontaria, meu furriel! Estou tramado! — desabafou Patusco.
— Atirador especial, apenas. — respondeu o furriel.
A curiosidade acentuou-se. O que é, o que não é? O furriel Ventura Rocha, num pé, partiu ao encontro do cadáver e, noutro pé, regressou à picada, segurando pelas asas aquele corpo inerte. Ao certo, uma ave de rapina, grande, com as penas escuras espessas. E o velho caixote, companheiro inseparável das aventuras africanas, ro-dando a película a preto e branco, registou a foto da praxe, testemunho da caçada para a posteridade, com o trofeu ingloriamente conquistado.
Finalmente, o adeus modesto à casa que durante três semanas serviu de abrigo a um punhado de homens desterrados em pleno mato. A permanente insistência do nosso capitão Carvalho, junto do Batalhão, por falta de pessoal suficiente na Companhia, para executar todas as missões que nos são impostas, por fim, resultou em benefício dos militares do Zóbuè.


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