Saturday, January 07, 2006

SÁBADO, 5 DE JANEIRO DE 1974

Uma calmaria inquietante reina por estas paragens, onde a vegetação cresce em ritmo acelerado. Nada acontece de extraordinário. O tempo parece que parou. Mata-se o ócio com jogos de cartas. A sueca, o cassino e a lerpa reinam nos quatro cantos do recinto. Os graduados entretêm-se com o king, com as damas e com o dominó. A espaços, lêem-se alguns livritos de cowboys ou da colecção da RTP, enviados pelas “caridosas senhoras do Movimento Nacional Feminino”; fuma-se desalmadamente, por vezes um naco de erva, ouve-se música — música macaca, não é Patusco? — e dorme-se.
Desconhece-se o que nos reserva o futuro, mas dir-se-ia que, neste destacamento, estamos numa estância de férias africana.
Ao almoço, um velhote esquelético, curvado pelo peso dos anos, fazendo-se acompanhar por uma filha, jovem moçoila, ostentando os seios hirtos e gingando o mataco um pouco saliente, chegou sereno à porta da guerra e pediu para falar ao “Sor Alferes”. Amavelmente, veio oferecer duas largas cestas repletas de ananases, da sua plantação. Entusiasmado com a garrafa de vinho oferecida pelo “Sor Alferes”, autorizou a tropa a frequentar a sua machamba e recolher o precioso fruto, “sempre que precisar”.


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