Friday, December 23, 2005

QUARTA-FEIRA, 26 DE DEZEMBRO DE 1973

A coluna continuou a sua via-sacra, aos soluços. Tarefa árdua é picar a terra e flanquear o mato. Os nossos soldados não estão preparados, nem física, nem psicologicamente, para desenvolver tão violento esforço em confronto com a natureza rude e dura. Os nervos entram em ebulição. Na Metrópole, foi-lhes ministrado alguma teoria, mas a prática é bem diferente. O IAO não passa, afinal, de autêntica cowboiada, com soldadinhos de carne e osso aos tirinhos de salva uns contra os outros, jogando à cabra-cega. Que infâmia!
Um camião, carregando milho e legumes para a Angónia, entregou o radiador ao diabo. Encontrar água na picada, só nos rios. Como já passáramos de Mussacama, resultou que pudemos contabilizar mais uma noite, mal passada, na picada, regada pelo sereno nocturno. Viver em contacto com a natureza é muito saudável! Mas nem tanto!
No quartel, já não há rádios para as operações. Pifaram todos. Uma autêntica epidemia africana atacou-os, deixando as NT isoladas do exterior.
Não há rádios para o 4º pelotão fazer a operação marcada para hoje. Deste modo, o grupo limitou-se a bater a zona e arredores de onde soaram os tiros de ontem. O grupo descobriu um trilho que limita a fronteira entre Moçambique e o Malawi e seguiu a pista até vislumbrar um aldeamento repleto de palhotas, em território malawi-ano. O alferes Gomes, que teima em caçar turras, — Vamos fazer um picadinho! —viu os seus intentos derrotados pela nega do seu pessoal em penetrar em terrenos estrangeiros.

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