Thursday, December 29, 2005

DOMINGO, 30 DE DEZEMBRO DE 1973

Tac! Tac! Pumm!!! Pumm!!! Trárárá Trárárá Pumm!!! Tac! Tac! Trárárá Trárárá Pumm!!! Trárárá Trárárá Trárárá ...
O sinal foi dado por dois tiros de pistola, pelas 15 horas e 15 minutos. Acto imediato, uma granada de bazuca estoirou de encontro à porta do lado direito do Unimog, quando este contornava a derra-deira curva do Morro da Mosca. O soldado condutor, ferido, conseguiu deter a viatura por entre os tiros de Kalashnikov e os disparos de G-3, misturados com a vozearia grave dos homens, donde sobressaiam vozes indecifráveis e gritos de dor. O sangue, às golfadas, desatou a correr rápido por entre os destroços do que fora uma viatura militar. A terra amarela empapou-se, escurecida pelo sangue, pelo suor e pelas lágrimas dos indefesos filhos desta ingrata nação. A areia dos sacos de protecção misturou-se com a terra lamacenta do chão.
Num ápice, o inferno transferiu-se para aquele local do mundo.
No chão frio, envolvidos num misto de lama e sangue, jaziam cinco homens. No interior da vala, à beira da picada, o soldado Cruz, prostrado sobre a arma, a cabeça metida numa pequena cova, tentou controlar a respiração, na ânsia de não fazer sequer um único movimento em falso.
De bruços, ao lado do rodado traseiro da viatura acidentada, o furriel Felismino Gomes, com o braço direito rasgado, apercebeu-se da gravidade da situação, mas deixou-se permanecer imóvel, com a cabeça pousada num pequeno charco de sangue.
Dois negros, do IN, aproximaram-se, disparando em rajada. Com o cano da arma, rodaram, entre 90º e 180º, os corpos prostrados por terra.
No outro lado da picada, o soldado Vilela, acordando do pesadelo, gritou:
— Ai! Ai! Socorro! Mãe! Mã...
Logo, um dos negros da Frelimo, apontando a arma, disparou-lhe dois tiros na cabeça, silenciando para sempre aquela voz de falsete. Acto contínuo, despejou quase um carregador nos corpos que ainda se encontravam prostrados sobre o resto da carroçaria, enquanto o outro se inteirava do estado do furriel Felismino Gomes, do cabo Cruz e do soldado Silva, rodando-lhes o corpo com os pés. Sem vislumbrar qualquer sinal de reacção, apoderaram-se das G-3 e penetraram no mato, tão rápido como apareceram sempre disparando para a retaguarda.
Choveram morteiradas e as granadas de mão distribuíram, em chuveirinho, os seus estilhaços no interior do capim. A reacção das NT, dispersas pelo grosso da coluna, obrigara os atacantes a deban-dar em retirada.
A chegada de duas viaturas com reforços de Capirizange, a cerca de três quilómetros, contribuiu para a rápida retirada do inimigo que, perseguido, ainda teve maneira de deixar espalhado pelo terreno pedregoso, coberto com espesso capim, pedaços de algodão ensanguentado.

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