Tuesday, February 28, 2006

DOMINGO, 24 DE FEVEREIRO DE 1974

A equipa de tiro, em deslocação até ao Quartel General, seguiu de Moatize para a vila de Caldas Xavier num meio de transporte sui géneris, a zorra, deslizando ligeiro sobre os carris, a 50 Km/hora.
Na apresentação ao Comandante de Batalhão, começaram as reprimendas, por causa do tamanho do cabelo daqueles militares, tapando o rebordo da orelha, das botas empoeiradas e da mistura de fardas.
— Então, meus senhores, vieram fazer turismo? Acham que estão em condições de representar a vossa Companhia nessas condições? — questionou o chefe do Batalhão.
— Procurem já o barbeiro e vão, imediatamente, cortar o cabelo. — ordenou o Tenente Coronel Matias, com cara de poucas amizades
— Yes, sir! — respondeu em silêncio, o madeirense.
— Isto aqui, apesar de não ser uma cidade, traja-se sempre a rigor. Ouviram? Senão mando-vos todos para a casa da rata! — berrou de novo, com a voz de falsete, o maior.
— Claro, meu tenente-coronel. — responderam todos em uníssono e perfilhados em sentido.
Encontrado o barbeiro da Companhia, este prontamente negou-se a executar a ordem.
Ao Domingo, não trabalho! Está fechado para descanso! — justificou.
Para quem luta no mato, nem sempre é possível aguentar as necessidades fisiológicas, exigidas pelo organismo.
Hoje, no regresso ao quartel, alguns militares foram atormentados por cólicas intestinais. Respeitando o pudor, o alferes Vale e o furriel Guerra afastaram-se para o interior do mato para aliviar o organismo. Eis senão quando ambos se encontravam já em posição bastante delicada, ouviram o disparo de uma Kalash, saído do interior do denso arvoredo e puderam observar a bala penetrar no tronco de uma árvore, a pouco menos de um metro.
— Antes a vida. — desabafou o furriel, acabando de atingir a picada e ainda agarrado à cintura das calças.
— Meu alferes, então não sabe que a tropa anda sempre com o coração nas cuecas? Quero dizer, nas mãos? — questionou o alentejano Garrafão.


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