Tuesday, February 28, 2006

QUINTA-FEIRA, 28 DE FEVEREIRO DE 1974

Pelas dez horas da manhã, soaram meia dúzia de tiros de Kalash, disparados das machambas do Malawi. Consta que o reforço do furo da água “andava a banhos com as muanas” no ribeiro. O pessoal está de prevenção. Não se pode facilitar a vida! Um abono de morteiro varreu a zona de onde saíram os tiros de Kalash.
— O cabrão do turra deveria estar empoleirado na copa de uma árvore. — murmurou o 1º sargento.
À noitinha, com o cacimbo, o quartel foi invadido por formigas de asa. Enormes, com cerca de uma polegada, perdiam as asas ao primeiro contacto do corpo com o solo. Os negros lutaram entre si para as apanhar. Serviam-lhes de petisco. Como estamos a alimentarmo-nos mal, o furriel vague-mestre que se ponha a pau. O pessoal desconfia que ele está feito com o 1º sargento Mingas. Serão só bocas??? Verdade, verdadinha, o certo é que neste mês de Fevereiro, com 28 dias, gente houve que passou 23 dias fora do quartel, a ração de combate.
Quem não diz mal do rancho é o 1º cabo cozinheiro, Adelino Silva.
— Pudera, passa os dias a mastigar, no meio da graxa da cozinha. — ouve-se dizer na parada.
Cozinheiro na vida civil, num restaurante de Lisboa, o nosso cabo, encarregado da cozedura dos alimentos, justifica-se, quando confrontado com o facto de continuamente ter os maxilares em trabalhos forçados.
— Na cozinha, é assim! O responsável está sempre a provar os alimentos, meu capitão.
— Será? Eu não sou, nem nunca fui cozinheiro. O que eu sei é comer. — comentou o capitão Carvalho, provando o rancho da noite.


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