Wednesday, August 16, 2006

SÁBADO, 31 DE AGOSTO DE 1974

Outro dia triste, para a história da nossa Companhia.
A coluna do alferes Gomes sofreu uma espécie de golpe de mão, à saída da Cantina do Delfim. O proprietário do estabelecimento, onde as perdizes e os frangos assados ajudam a matar a fome aos brancos da coluna, apenas alertou para o máximo cuidado a ter, na continuação da coluna.
— Não desejava estar no vosso lugar! — afirmou ao alferes.
Reiniciada a marcha, alguns frelimos, dispersos ao longo da berma da picada aproximaram-se da cabeça da coluna. Como as nossas relações com os camaradas estão, ultimamente, razoáveis, o alferes Gomes, ordenou a paragem das viaturas e, apeando-se, dirigiu-se ao chefe do grupo a inteirar-se da situação.
Qual não foi o seu espanto, quando, num ápice, viu a coluna cercada pelos guerrilheiros e ouviu a ordem do chefe do grupo para que a tropa abandonasse as viaturas e se sentasse na berma da picada.
Cercados, os militares portugueses tiveram de render-se e abandonar o seu armamento que acabou sendo surripilhado: 27 G-3, 1 HK, 2 morteiros 60mm, os cunhetes de balas e de morteiro e as granadas. Ainda os rádios, o equipamento de enfermagem e todo o equipamento individual dos militares. Felizmente, não houve vítimas a lamentar.
Perante este cobarde evento, depois de prosseguir viagem, a coluna, por ordens superiores, ficou retida em Capirizange.
Os condutores dos carros civis com destino ao Zóbuè, não querendo pernoitar na picada, resolveram aventurar-se sem escolta militar. Azar o deles. Duas minas anti-carro foram accionadas sem prejuízo pessoal e um carro teve de ficar na picada.
— Estes barrotes queimados estavam a preparar-nos um rico regresso à Companhia! — opinou o furriel Marques, encarregado do cerra-filas.
— Grandíssimos cobardes!
Com carácter de urgência, está marcada uma reunião, para amanhã, na Cantina do Delfim, com maiores da Frelimo nesta zona.
No quartel, todos os militares estão revoltados com a cobardia da Frelimo e o alerta é máximo. Bem nos parecia que os turras não eram de confiança. E tudo isto acontece quatro meses depois do 25 de Abril em Portugal.


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