Thursday, October 19, 2006

TERÇA-FEIRA, 12 DE NOVEMBRO DE 1974

Cinco militares portugueses, em dois Unimogs, comandados pelo furriel Araújo, deslocaram-se ao antigo destacamento de Viúva Henriques, acompanhados por elementos da Frelimo, com o objectivo de trazer para o nosso quartel, diverso material militar da daquele movimento, para dotar os seus destacados neste local. Com esta viagem inesperada àquela povoação, os furriéis Guerra e Araújo tiveram a possibilidade de rever o lugar onde passaram algumas semanas no início da nossa comissão.
Ambos os furriéis foram convidados pelo chefe do grupo a visitar uma base da Frelimo na república da Zâmbia. Os dois militares aceitaram o convite com a condição de o mesmo ter lugar até à data de saída da Companhia.
A cadela Laica, animal de estimação do Furriel Guerra, finou-se. Há vários dias que o bicho andava esmorecido, rejeitando a alimentação e com uma espécie de tosse canina.
— A Laica tem esgana. E não vou deixá-la sofrer. — afirmou o dono do animal.
Para grandes males, grandes remédios. O animal, num derradeiro esforço, foi atraído para próximo do motor da luz. Um tiro de Walter silenciou o sofrimento canino, no lugar onde uma cova, com cerca de meio metro, fora aberta para sua última morada.
— Pronto. Não sofre mais. Acabou-se! — exclamou o furriel, limpando duas lágrimas que teimavam escorrer pela face abaixo.


TERÇA-FEIRA, 22 DE OUTUBRO DE 1974

Um grupo de militares portugueses, entre eles o furriel Marques foi a Tete para uma festa de anos. Na continuação, deslocaram-se até à barragem de Cabora-Bassa.
Agora que a actividade bélica cessou, ocupar o tempo tornou-se tarefa difícil, pelo que é necessário pôr a imaginação a não dar tréguas à arte e ao engenho.
Durante várias horas, à sombra da palhota do quartel, um grupo de militares entreteve-se no fabrico de colares e de pulseiras, em missangas coloridas.
— Está bonito, meu furriel? — questionou o soldado Brilhante.
— Que beleza! Quando chegares à Metrópole monta uma fábrica.
— Furriel, eu vou fazer concorrência às muanas. — exclamou o soldado Veiga, enfiando várias pulseiras nos dois pulsos.
Outro grupo de soldados ocupou-se a trabalhar o pau preto, tentando realizar imitações de estatuetas artísticas. Simples recordações da passagem por África.


SÁBADO, 19 DE OUTUBRO DE 1974

A tropa indígena da incorporação da Província de Moçambique seguiu para Tete, onde serão devolvidos à actividade civil. Muitos deles pensam alistar-se na Frelimo. Militar do exército moçambicano é profissão de futuro. As mulheres é que ainda continuam por aqui batendo fuba para as refeições e tratando de alguns serviços necessários aos militares.